BRASIL REúNE VANTAGENS ESTRUTURAIS PARA ATRAIR INVESTIMENTOS, DIZ GALíPOLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, disse nesta quarta-feira (24) que o Brasil possui vantagens comparativas suficientes em relação a outros países para atrair investimentos estrangeiros, mesmo com as dúvidas do mercado em relação à organização das contas públicas.

"Eu realmente acho que mesmo com esta reprecificação que ocorreu mais recentemente com o fortalecimento do dólar (...) do ponto de vista estrutural, o Brasil reúne vantagens para se apresentar como um polo de atração para investimentos ", afirmou durante o Upload Summit, evento em São Paulo com investidores.

Galípolo atribuiu a alta do dólar recentemente, que chegou a se aproximar dos R$ 5,30, às expectativas de manutenção dos juros em nível elevado por mais tempo nos Estados Unidos, o que torna as taxas americanas mais atrativas e gera uma fuga do capital para a maior economia do mundo.

Ele chegou a comparar os títulos públicos de dívida americana com um buraco negro do centro da galáxia. "Ele suga qualquer coisa, não deixa nem a luz passar. Então você tem o Tesouro americano pagando a taxa de juros que ele paga hoje, fica muito mais difícil você competir por recursos", afirmou.

O ex-número 2 do ministro Fernando Haddad não citou, porém, o aumento da cautela dos investidores com relação à trajetória fiscal no Brasil após as discussões nos bastidores de mudanças pelo governo da meta de superávit primário para o próximo ano.

Galípolo elencou algumas condições que tornam o Brasil esse polo de atração de investimentos, como a resiliência no consumo —devido aos programas de transferência de renda do governo e também ao aumento do salário mínimo—, além de citar a pujança do mercado brasileiro, com uma balança comercial saudável, com o país assumindo uma posição importante na exportação de commodities diante do quadro geopolítico atual complexo.

O diretor do BC disse ainda que o que justifica sua visão sobre a posição privilegiado do Brasil no mundo é o fato de o país ter uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, em um momento em que se discute globalmente a importância da transição energética. E citou o ciclo de política monetária, que é benéfico ao país.

"Eu acho que isso tudo nos coloca numa situação muito melhor, comparando inclusive com o passado", disse Galípolo, que opôs essa sua visão otimista em relação ao Brasil com os conselhos que ouviu quando ingressou no BC.

"Logo quando eu cheguei no Banco Central, alguém me disse que eu não devia nem sorrir em foto, porque o diretor do Banco Central não deve parecer otimista nunca", disse aos risos.

Apesar do seu otimismo, Galípolo disse que muitas vezes a população não consegue sentir no dia a dia os dados de atividade econômica e mercado de trabalho aquecidos. Ele citou como exemplo os EUA, onde os indicadores econômicos não têm influenciado na opinião dos eleitores.

Segundo o diretor de Política Econômica do BC, aqui no Brasil ainda há uma defasagem da mão de obra e da remuneração dos trabalhadores, mesmo com a massa salarial tendo atingido o maior crescimento desde o Plano Real.

"A gente tem ainda uma participação dessa massa de remuneração do trabalho que caiu quase 6 pontos percentuais de 2015 para cá", afirmou.

‘BC NÃO DEVERIA VOTAR META DE INFLAÇÃO’

Ao comentar a inflação de serviços e de alimentos, que se mantêm em níveis elevados, Galípolo disse que esse não deveria ser um ponto de dúvidas para a política monetária, já que a autarquia está comprometida com o cumprimento de suas metas de preços.

"Assim como na empresa de todos vocês, meta não é para se discutir, meta é para se perseguir", disse a uma plateia de investidores e empresários.

Galípolo disse que as metas de inflação no Brasil são definidas por um corpo técnico de um governo democraticamente eleito e afirmou ser contrário que o Banco Central, responsável por perseguir essas metas, participe dessa decisão.

"Eu sou até de uma posição talvez mais radical aqui, de que acho que o BC nem deveria no CMN [Conselho Monetário Nacional] votar na meta de inflação", afirmou.

Hoje, o colegiado do CMN é composto por três cadeiras, ocupadas pelo presidente do Banco Central (Roberto Campos Neto), pelo ministro da Fazenda (Fernando Haddad) e pela ministra do Planejamento e Orçamento (Simone Tebet).

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