PRODUçãO INDUSTRIAL AVANçA 0,3% NO 1º TRIMESTRE E TEM QUARTA ALTA CONSECUTIVA, APONTA IBGE

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RIO - Com ajuda do mercado de trabalho aquecido e dos juros em queda, a indústria brasileira encerrou o primeiro trimestre no azul, embora tenha começando o ano rateando. A produção subiu 0,3% no primeiro trimestre de 2024 ante o quarto trimestre de 2023, na série com ajuste sazonal, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados nesta sexta-feira, 3, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Foi o quarto trimestre seguido no campo positivo”, apontou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.

Na verdade, a indústria permaneceu invicta ao longo de todo o ano passado, sem resultados trimestrais negativos (houve estabilidade no primeiro trimestre de 2023). Em 2024, a despeito do avanço recente, o setor deve contribuir pouco com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, previu a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

“Apesar de a indústria acumular um crescimento de 1,9% no ano até aqui, reforçando a leitura de que a atividade está mais forte do que se esperava para este começo de ano, o cenário para os próximos meses não é tão otimista. Acreditamos que a indústria terá mais um ano de estagnação em 2024. Na nossa visão, o setor deve contribuir com apenas 0,1 ponto percentual do crescimento de 2,2% que projetamos para o PIB deste ano”, estimou Moreno, em comentário.

Adiante, o setor industrial deve continuar a enfrentar dificuldades decorrentes das condições financeiras restritivas e da demanda externa fraca, anteviu o diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos.

“Do lado positivo, as transferências fiscais significativas para as famílias, a expansão da massa salarial real da economia, as políticas fiscais e parafiscais expansionistas, a inversão do ciclo de crédito e as políticas industriais agressivas patrocinadas pelo governo deverão apoiar o sector”, ponderou Ramos, em relatório.

Em relação ao mês imediatamente anterior, que desconta influências sazonais, a produção industrial cresceu 0,9% em março ante fevereiro, o segundo mês de avanços consecutivos, recuperando-se da queda vista em janeiro. No entanto, a expansão da indústria nacional em março foi concentrada em apenas cinco das 25 atividades investigadas: alimentícios (1,0%), têxteis (4,5%), impressão e reprodução de gravações (8,2%), indústrias extrativas (0,2%) e farmacêuticos (0,5%). Houve recuos nos demais 20 ramos pesquisados, com destaque para os impactos negativos de veículos (-6,0%) e equipamentos de informática e eletrônicos (-13,3%).

“Os resultados negativos mais espalhados do que a presença de resultados positivos claro que chamam atenção, claro que trazem algum sinal de alerta”, reconheceu André Macedo, do IBGE.

Porém, o pesquisador ressalta que a indústria brasileira tem mostrado tendência positiva desde meados do ano passado. Segundo ele, essa trajetória favorável está “diretamente associada à melhora do mercado de trabalho”, com aumento no número de trabalhadores ocupados e ampliação da massa de salários em circulação na economia.

“A taxa de juros está em patamares mais baixos do que tinha no passado”, acrescentou André Macedo, do IBGE. “São fatores que ajudam a explicar a melhora nesse setor industrial não só neste mês.”

Macedo diz que não é possível antecipar o desempenho da indústria nos meses vindouros, mas frisa que esses mesmos elementos que ajudaram a explicar o avanço na produção recente ainda permanecem presentes no cenário macroeconômico atual, ou seja, podem influenciar as próximas leituras da pesquisa.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) projeta um crescimento de 2,2% na produção industrial em 2024.

“A tendência é que a indústria extrativa se recupere nos próximos meses e a indústria de transformação mantenha a trajetória de crescimento, conforme sinalizam os fundamentos econômicos, entre eles, a queda da taxa de juros, a melhora das condições de crédito, forte expansão real da massa salarial ampliada, que avançou 10,3% na comparação do primeiro trimestre de 2024 e o mesmo período do ano anterior e as medidas anunciadas pelo governo, como Depreciação Superacelerada, Mover e o Plano Mais Produção (P+P)”, enumerou a Fiesp, em nota.

A entidade alerta, entretanto, que um aumento do Custo Unitário do Trabalho representaria um fator de risco nesse processo de retomada esperado para o ano. “Esse processo é reflexo do avanço dos rendimentos reais do trabalho que não estão sendo acompanhados por ganhos em produtividade no setor”, explicou a Fiesp.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção industrial teve um recuo de 2,8% em março de 2024, ante março de 2023, interrompendo assim uma sequência de sete meses de avanços consecutivos. O mau desempenho foi influenciado pelo efeito calendário: o mês de março de 2024 teve 20 dias úteis, três dias úteis a menos do que março de 2023, que teve 23 dias úteis.

“A queda (na produção) precisa ser relativizada, na medida que a gente tem diferença importante de dias úteis”, apontou André Macedo, do IBGE.

A indústria brasileira chegou a março de 2024 operando 0,4% acima do patamar de fevereiro de 2020: nove das 25 atividades investigadas estão operando em nível superior ao pré-crise sanitária.

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