ELA FOI EXPULSA DE CASA, VENDEU BíBLIAS E HOJE FATURA R$ 1 MILHãO COM CLíNICA ESTéTICA

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A esteticista Victória Mezêncio, de 29 anos, fatura hoje R$ 1 milhão por ano com a Clínica Mezêncio, que oferece procedimentos estéticos em Santo André, região metropolitana de São Paulo. O sucesso do empreendimento, no entanto, foi antecedido por momentos de extrema dificuldade. Aos 17 anos, ela engravidou e foi expulsa de casa pelo pai. Sem ter para onde ir, vendeu bíblias por telemarketing para se sustentar.

Aos 18 anos, foi estudar estética em Lins, sua cidade natal. Ao mesmo tempo, deixou a venda de bíblias para trabalhar como recepcionista. À noite e nos finais de semana, fazia design de sobrancelhas, indo até a casa das clientes.

Em 2016, aos 20 anos, Mezêncio finalmente abriu um negócio próprio: uma pequena clínica estética numa sala comercial, que alugou do sogro. “No início, eu tinha apenas uma maca cor-de-rosa”, relembra.

No ano seguinte, ela investiu em cursos de especialização, inclusive em Portugal e no Chile, e se especializou em criolipólise, um procedimento novo no mercado que prometia eliminar gordura localizada sem cortes cirúrgicos.

A criolipólise consiste em uma técnica não cirúrgica e não invasiva, que utiliza uma máquina. A promessa é reduzir gordura localizada por meio do congelamento controlado do excesso de gordura.

O procedimento é feito em uma única sessão que dura de oito a 12 horas e custa a partir de R$ 4 mil. Ela diz que os primeiros resultados aparecem em 20 dias, e o final, após três meses. O paciente deve retornar uma vez por mês à clínica durante quatro meses para dar continuidade ao tratamento, fazendo protocolos como drenagem linfática e radiofrequência. “É individual, nós indicamos de acordo com o que o paciente precisa”, ressalta a empresária.

Além da criolipólise, a clínica oferece outros procedimentos estéticos, a partir de R$ 2,5 mil. Há técnicas para levantar e preencher o glúteo, além de lifting não cirúrgico, procedimento que promove o “esticamento da pele” a fim de reduzir papada e linhas de expressão.

Desafios aumentaram com pandemia

Em 2018, ela foi convidada para palestrar sobre seus resultados em Portugal. Na volta, decidiu que era hora de expandir seus horizontes e mudou-se para São Caetano do Sul, também na região metropolitana de São Paulo.

Na nova cidade, ela abriu uma pequena clínica. “Em meses, não tinha espaço suficiente para atender a clientela”, relembra. A necessidade de expansão a levou a Santo André no fim de 2019. Menzêncio alugou uma casa no município e investiu tudo o que tinha, cerca de R$ 50 mil, para reformá-la.

Quando tudo parecia estar finalmente dando certo, mais um desafio: no dia seguinte à inauguração da nova clínica, em janeiro de 2020, os canos se romperam e um vazamento de água destruiu tudo o que ela havia construído.

“Fiquei desesperada. Eu já tinha publicado sobre a inauguração nas redes sociais. As pessoas apareciam no local, não havia clínica, e os aparelhos estavam do lado de fora, secando debaixo do sol”, relata.

Após quase uma semana sem trabalhar, ela recebeu a proposta de um amigo: R$ 100 mil por 20% do seu negócio. Ela aceitou e reabriu a clínica atual em Santo André, em março de 2020. Uma semana depois, a pandemia de coronavírus foi decretada e ela teve que fechar o estabelecimento.

Com as restrições, a empresária ficou mais 20 dias sem trabalhar e, depois, precisou reduzir os atendimentos para uma pessoa por dia.

O seu faturamento, que na época era de R$ 50 mil mensais, caiu para R$ 15 mil. “Era o suficiente para pagar o aluguel do espaço, os salários das três funcionárias com as quais eu contava na época, e não morrer de fome com o meu filho”, afirma.

Planos para a Clínica Mezêncio

Com a flexibilização das medidas sanitárias, Mezêncio voltou com força total e, em 2023, faturou R$ 1 milhão. Hoje, ela é a única sócia da empresa, pois conseguiu comprar a parte do amigo que a ajudou. A companhia conta com oito colaboradoras em regime CLT e atende cerca de 80 clientes por mês (60% mulheres).

A Clínica Mezêncio está abrindo uma segunda unidade na Chácara Klabin, na cidade de São Paulo. Em obras, o espaço deve ser inaugurado em julho deste ano. A empresária espera atingir o faturamento de R$ 6 milhões até o fim de 2024.

Consultora recomenda cuidados com estética

Segundo a consultora de negócios do Sebrae-SP Rafaela Brugnatti, o segmento da beleza e estética no Brasil é um dos que mais crescem.

Para ela, dois lados precisam ser considerados: tanto a vantagem de investir em um ramo em tendência crescente, quanto os riscos de lidar com uma forte concorrência.

Para reduzir os riscos, ela recomenda que os interessados em investir em um negócio do tipo façam um planejamento estratégico, com estudo de mercado.

Essa pesquisa servirá para o empreendedor entender qual vertente a clínica deve adotar, os tipos de procedimento, serviços e protocolos mais interessantes para as pessoas do local almejado.

Além disso, a consultora recomenda capacitações e qualificações profissionais constantes, uma vez que o ramo conta com o surgimento constante de novos procedimentos, especialmente corporais e faciais.

A regulamentação do negócio é outro ponto de atenção, principalmente junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “É importante lembrar: quem lida com beleza também lida com saúde”, destaca Brugnatti.

Essa área exige também um investimento constante em marketing e presença digital, ressalta a especialista. De acordo com ela, clínicas de estética têm conseguido driblar a expectativa de baixa demanda durante o inverno incentivando os clientes a se prepararem com antecedência para o verão, por exemplo. O setor chega a ter crescimento de até 30% durante o período, com a ajuda de anúncios online.

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