POR QUE SER VOCê MESMO NO TRABALHO NEM SEMPRE é O MELHOR PARA A SUA CARREIRA?

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Todo mundo parece estar falando da importância de sempre ser você mesmo com todos. Mas será que isso pega bem no trabalho?

“A moda agora na mídia e nas revistas de negócios é que a autenticidade é ótima, e que os líderes e funcionários deviam ser eles mesmos no trabalho. Mas a autenticidade não é igualmente benéfica para todo mundo em todos os contextos”, disse Sandra Cha, da Universidade Brandeis, principal autora de um artigo publicado no Academy of Management Annals, “Being Your True Self at Work: Integrating the Fragmented Research on Authenticity in Organizations”, (Sendo seu verdadeiro eu no trabalho: Integrando a pesquisa fragmentada sobre autenticidade às organizações, em tradução livre).

“A pesquisa corrobora que a autenticidade pode levar a benefícios psicológicos, como tornar as pessoas mais felizes e mais energizadas no trabalho”, disse Sandra, que divide a autoria do artigo com Patricia Faison Hewlin, da Universidade McGill; Laura Morgan Roberts, da Universidade Georgetown; Brooke Buckman, da Universidade Internacional da Flórida; Hannes Leroy, da Universidade Erasmus; Erica Steckler, da Universidade de Massachusetts Lowell; Kathryn Ostermeier, da Universidade Bryant; e Danielle Cooper, da Universidade do Norte do Texas.

Os autores analisaram centenas de artigos de pesquisa de psicologia e negócios sobre autenticidade publicados desde o fim da década de 1990, incluindo 11 do Academy of Management Journal e seis da Academy of Management Review.

Ao descrever a recente “onda de interesse público pela autenticidade”, os autores destacaram que a crença de que as pessoas deveriam ser autênticas existe há milhares de anos, promovida por filósofos, de Sócrates a Jean-Paul Sartre, e por psicólogos, como Abraham Maslow.

Para algumas pessoas, a autenticidade também pode melhorar a imagem profissional, os resultados da carreira e a eficácia como líderes. “As pessoas ficam animadas quando conhecem alguém que parece ‘real’. Ou quando têm um líder que parece ser autêntico e direto. Cada vez mais esperamos que as pessoas sejam autênticas no trabalho e usamos a autenticidade como um critério com o qual avaliamos as pessoas”, explicou Sandra.

Mas quando há uma incompatibilidade entre seu verdadeiro eu e as normas em vigor, levar seu verdadeiro eu por completo para o trabalho pode ser difícil e possivelmente ter consequências negativas para sua imagem e carreira, escreveram os autores, dando os seguintes exemplos:

  • “Um atendente cuja loja onde trabalha espera que os funcionários ‘trabalhem com um sorriso no rosto’, mas começou o expediente sentindo-se triste;
  • Um médico de uma clínica que discorda dos valores de ‘eficiência’ da organização e atende o máximo de pacientes possíveis todos os dias;
  • Um advogado que é gay num escritório onde a homossexualidade é vista com maus olhos.”

Os autores também citaram pesquisas sobre “identidades desvalorizadas” socialmente e estigmas no lugar de trabalho que podem afetar mulheres, grávidas, minorias raciais e religiosas, funcionários LGBT+, trabalhadores com deficiências e com doenças como HIV/AIDS.

Um estudo “descobriu que quando as mulheres usam hijab (o véu que cobre a cabeça das muçulmanas), elas recebem menos retornos de entrevistas de emprego e mais negatividade de potenciais empregadores, além de enfrentar expectativas menores de receber ofertas de emprego.

De modo semelhante, expressar identificação étnica de forma mais intensa está associado a avaliações mais negativas das minorias étnicas. Por exemplo, mulheres negras com cabelo afro [natural, sem alterações químicas ou alisado] recebiam avaliações menos favoráveis em termos de domínio e profissionalismo”, escreveram os autores.

“Para alguém que tem uma identidade socialmente valorizada e cujo verdadeiro eu se encaixa direitinho com os valores da organização, a autenticidade talvez seja uma situação onde todos ganham. Pode parecer muito natural para essa pessoa encorajar as demais a também serem elas mesmas, porque a experiência dela ao ser autêntica é totalmente positiva. Mas não é tão fácil para muitas pessoas”, disse Sandra.

“Esperamos que as pessoas fiquem mais conscientes dos desafios e das tensões em torno da autenticidade enfrentadas por um grande número de pessoas. Líderes sensíveis criarão ambientes nos quais as pessoas não precisem pagar esse preço para serem autênticas.”/TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

© 2023 / Academy of Management / Distributed by The New York Times Licensing Group

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